Titulo: Garota em Pedaços
Autora: Kathleen Glasgow
Editora: Outro Planeta
Paginas: 380
Estrelas: 5/5
Quando o plano de saúde da sua mãe suspende seu tratamento numa clínica psiquiátrica – para onde foi após se cortar até quase ficar sem vida-, Charlotte Davis troca a gelada Minneapolis pela ensolarada Tucson, Arizona (EUA), na tentativa de superar seus medos e suas decepções. Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem decide viver e não mais sobreviver. Para fugir do círculo vicioso da dor, ela usa seus talentos em desenho e embarca no mundo das artes. Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas deixadas por suas perdas e os cortes profundos que imprimiu em seu corpo.
Esse foi o tipo de livro que acabei e corri para fazer a
resenha porque são tantos sentimentos e ideias que na verdade nem sei como
expressar. Esse não é um livro leve, é pesado e doloroso, mas que é importante
e definitivamente vale a pena.
A narrativa se inicia quando a protagonista, Charlie, já está
em uma clínica psiquiátrica para garotas. Ela passa a maior parte do tempo
calada com sua mudez seletiva sendo apelidada de Sue Silenciosa. Charlie sofre
de automutilação e de Transtorno do Controle Impulsivo, algo que eu nem sabia
existir até a leitura. Ela convive com outras meninas que passaram por grandes
problemas, mas talvez não tanto quando Charlotte. O início do livro é meio
confuso.
A autora mistura os sentimentos e pensamentos da protagonista e os
acontecimentos que a levaram até ali de uma forma irregular. Pode até parecer
que ela está jogando informações aleatórias para os leitores, mas não, tudo é
importante para entender como Charlie foi parar naquela instituição. Naquele
lugar ela tinha tudo que precisava um lugar aquecido para dormir e comida.
Diferente de muitas outras, estar naquela clínica era uma espécie de presente
para Charlie que infelizmente teve que abrir mão.
"Eu me corto porque não consigo lidar com as coisas. Simples assim. O mundo se torna um oceano, o oceano cai em cima de mim, o som da água é ensurdecedor, a água afoga meu coração, meu pânico fica do tamanho do mundo. Preciso de libertação, preciso me machucar mais do que o mundo pode me machucar."
Devido a problemas no pagamento Charlie recebe alta da
clínica e deve morar com a mãe, mas a relação delas é bastante tumultuada e a própria
progenitora manda a filha para o deserto do Arizona para ficar com um amigo.
Tudo isso logo depois da garota quase morrer. É difícil julgar as personagens
desse livro, mas com uma mãe relapsa e abusiva realmente é complicado. Logo que
chega na nova cidade a garota fica sozinha a espera de seu amigo Mikey voltar
de viagem e logo arranja um emprego de lavadora de pratos em uma cafeteria. Ali
ela conhece diversos personagens que são muito importantes para o percurso da
nossa protagonista, inclusive Riley, um ex-cantor de uma banda semi-famosa com
quem acaba se envolvendo.
A autora do livro tem uma escrita muito peculiar. Como eu
disse, não existe uma linearidade ou aviso de “flashbacks” na história. Eles
apenas acontecem, mas são importantes para entender Charlie. Através dele
sabemos da morte de seu pai, do bullying que sofria na escola, do
relacionamento abusivo com a mãe e como a chegada de Ellis, melhor amiga de
Charlie, a levou por um caminho em que finalmente se salvava da solidão, mas
que resultou em um desastre para ambas. A vida de Charlie não foi fácil, além
de tudo já dito, ela acaba tendo que viver na rua onde vivia maltratada e com
medo.
Não há como não ter compaixão e empatia com Charlotte. Ela é só uma
garota de 17 anos que já viveu um inferno na terra e tenta construir uma vida
com os cacos restantes de sua alma. O único refúgio dela encontra-se no carvão
e papel em que pode se expressar e se encontrar. A arte é verdadeiramente um
bote de salvação em diversos momentos. Além disso acho que em algum momento você também vai se identificar com os questionamentos e demônios que ela enfrenta. No meio do caminho há Mikey, o amigo por
qual ela era apaixonada, mas que droga de amigo. Ela mal chega na cidade e ele
vai viajar meses com a banda deixando Charlie sozinha em uma nova cidade. Assim
ela acaba em um quartinho que é a única coisa que pode pagar.
No meio dessa
nova vida ela encontra em Riley alguém que pode ser capaz de amá-la, mas que é
tão ou mais ferrado que ela. Não tem outra palavra. Riley é um ex-astro do rock
que destruiu sua vida com o vício e que arrasta nossa protagonista com ele na
medida em que a história avança. Além deles temos Blue, uma ex-interna da
clínica que pode parecer má a primeira vista, mas é muito importante no
processo de recuperação de Charlie. Temos também Linus e Tanner colegas de trabalho
que ajudam Charlotte em um momento difícil.
Os personagens são muito bem construídos, mas é realmente em
Charlie que está toda a emoção e sentimento do livro. Como disse a escrita da
autora é bem peculiar, diferente, mas que funcionou muito bem com a história.
Não preciso dizer o quão importante é trazer a temática central no cutting, mas
ela vai além e trata de abusos, vícios e da perturbada e infernal que pode ser
a mente do ser humano. Ela não trata os temas com tanta delicadeza, mas de
forma bruta e visceral que torna tudo mais real e pesado, ao mesmo tempo em que
incita a leitura.
“A vida de uma garota é a pior vida do mundo. A vida de uma garota é: você nasce, sangra e queima.”
Garota em Pedaços é difícil, mas necessário. É o retrato de
uma jovem que passou por todo mal possível, mas ainda assim sobrevive. Charlie tenta reconstruir sua vida e é testada pelos seus demônios a todo momento. A jornada dela não é fácil, não é uma história bonita de superação, mas verdadeira e real de como é difícil viver. Ela mostra que nós sempre carregamos cicatrizes do passado, não podemos mudar o que
foi feito, mas que nem tudo está perdido. Por mais impossível que seja com a ajuda necessária e força você ainda pode construir algo novo e "angelical para caralho".
“
Oi Thais,
ResponderExcluirOntem vi esse livro no Kindle Unlimited e baixei sem expectativas com a leitura,porém ao ler sua resenha e os quotes selecionados decidi colocá-lo na frente, parece ser exatamente o que eu preciso.
Bjs