20 [ RESENHA ] A Fogueira

Título: A Fogueira

Autora: Krysten Ritter

Editora: Fabrica 231

Páginas: 288

Estrelas: 4/5

Livro: Cortesia da Editora

Com lançamento simultâneo no Brasil e nos EUA, A fogueira é o livro de estreia da atriz Krysten Ritter, protagonista do premiado seriado da Netflix Jessica Jones e conhecida também por seus papéis em Os defensores e Breaking Bad, entre outros filmes e séries. Na trama, Abby Williams é uma advogada de 28 anos especializada em questões ambientais. Hoje uma mulher independente vivendo em Chicago, Abby teve uma adolescência problemática numa cidadezinha no estado de Indiana que até hoje ela luta para esquecer. Mas um caso de contaminação envolvendo uma grande empresa obriga Abby a voltar à pequena Barrens e confrontar seu próprio passado. Quanto mais sua equipe avança nas investigações sobre a Optimal Plastics, mais Abby se aproxima também da verdade sobre o misterioso desaparecimento de sua antiga melhor amiga anos atrás e de outros acontecimentos até então sem resposta.

 

A infância de Abgail Williams não fora nada agradável, com uma mãe que estava morrendo por conta do câncer ósseo e um pai muito religioso, Abby se via cada vez mais solitária; até conhecer Kaycee Mitchell.

As duas faziam tudo juntas e para Abby, elas seriam melhores amigas para sempre. Infelizmente não foi isso que aconteceu! Pois a partir do ensino médio na Barrens High, Kaycee havia mudado. E de um jeito cruel e sádico, ela se unira à Misha Dale, Cora Allen e Annie Baum, para fazer a vida de Abby um verdadeiro inferno. 

“Kaycee andava à frente das amigas como um lobo alfa liderando a alcateia. No refeitório, decidia onde se sentar, e as outras a seguiam; se ela comesse o almoço, as outras comiam também; se movesse a comida de um lado para outro na bandeja ou só almoçasse um saco de balas de goma Swedish Fish, as amigas faziam o mesmo. Misha era a mais cruel e a mais barulhenta delas. Mas Kaycee era a líder.”

O Bullying durou por muito tempo, até que no último ano do ensino médio uma doença se abateu sobre as meninas. Os sintomas eram mãos tremendo, perda de equilíbrio e esquecimento. Ninguém conseguia entender o que aconteceu com elas, pais davam entrevistas, ligando a doença à poluição, porém a polícia descobriu que tudo não passava de apenas uma mentira para chamar atenção.

E a notícia caiu no esquecimento para toda a cidade de Barrens, mas não para Abby, que vira o estado da sua ex melhor amiga e nunca esquecera o medo em seus olhos na última noite antes dela desaparecer sem deixar nenhuma explicação.

Dez anos se passaram, Abby se mudara para Chicago, deixando Barrens e todo o seu passado para trás. Agora aos 28 anos, Abby é uma advogada e possui um emprego no CTDA (Centro para Trabalho em Direito Ambiental). Mas mesmo tendo um futuro, uma vida, um apartamento na Lincoln Park e amigos, ela ainda tinha pesadelos na maioria das noites, principalmente em relação à Kaycee.

Abby nunca conseguiu tirar da cabeça a doença e que talvez Kaycee não tenha mentido. E através da sua atração por questões do meio ambiente e conservação, ela consegue levar uma queixa inicial contra a Optimal Plastics, com o objetivo de verificar e provar que a água estava realmente contaminada, dando origem à doença. Mas para começar a investigação, ela terá que voltar para a cidade que só lhe trouxe dor e sofrimento.

“Este era um jogo que eu costumava fazer quando criança. Sempre que tinha medo ou precisava ir ao antigo galpão no quintal à noite, desde que eu prendesse a respiração, nenhum monstro, assassino com machado ou figura deformada dos filmes de terror poderia me pegar. Eu prendia a respiração e corria a toda até os pulmões estourarem e eu me encontrar a salvo em casa com a porta trancada. Até ensinei esse jogo a Kaycee quando éramos crianças, antes de começarmos a nos odiar. É constrangedor, mas ainda faço. E ele funciona. Na maioria das vezes.”

Sendo uma cidade- empresa, será bem difícil convencer os cidadãos de Barrens a colaborarem contra a Optimal, mas será pior para Abby rever todas as pessoas que a magoaram, principalmente ao saber que elas haviam mudado. Seu pai estava doente, Misha, que por incrível que pareça se tornara a vice-diretora, estava casada e tinha filhos. Mas esses detalhes não foram os mais surpreendentes para Abby, e sim, Misha tratá-la como se fossem velhas amigas.

“Misha Dale. Mais loira, mais gorda, ainda bonita, de seu jeito de cidade pequena. Sorrindo. Antigamente eu sonhava com o sorriso dela – do jeito, imagino como a coridora deve sonhar com o funil longo e escuro da garganta de um tubarão. Misha aos 12 anos: convencendo todos os amigos a jogar pãezinhos dormidos em mim quando eu andava pelo refeitório. Misha aos 4 anos: colocando o fêmur de um animal em meu armário, alegando que era um dos ossos de minha mãe, cochichando que eu guardava pedaços de cadáver no freezer, um boato que alcançou uma popularidade tão agressiva que o xerife Khan apareceu para verificar. Aos 15 anos, ela organizou uma campanha para levantar dinheiro para o tratamento da minha acne. Aos 16, divulgou uma petição online para que eu fosse suspensa da escola. Uma sádica de sorriso bonito.”

 Abby também revê Dave Condor, um ex-colega da escola que ela nunca tinha conversado, mas que mesmo tendo um passado intrigante, ela se sente atraída por ele. Brent O’Connel, (o garoto mais bonito da escola pelo qual ela era apaixonada no ensino médio e ex-namorado de Kaycee, na época), finalmente decide se declarar para Abby, dizendo que sempre fora apaixonado por ela e está convicto a tentar um relacionamento com ela, mesmo eles estando em lados opostos. Pois ele trabalhava para a Optimal como gerente de vendas regional.    

 Todos na cidade parecem querer que ela não se envolva com a empresa e isso faz com que Abby fique cada vez mais empenhada em investigar não apenas a empresa, mas também o seu passado que pode estar totalmente conectado a esse mistério. Acontecimentos estranhos que envolvem uma fogueira e especialmente o Jogo, uma brincadeira cruel criada por Kaycee, envolvendo festas, drogas, sexo e chantagens, que poderiam levar ao suicídio de muitas jovens.

Um enredo que mescla o drama e o suspense, com personagens misteriosos e intrigantes. Confesso que fiquei desconfiada de muita gente, todos pareciam muito gentis e atenciosos como se realmente estivesse escondendo algo. O final foi surpreendente e os enigmas que faltavam foram se encaixando perfeitamente na trama. Fiquei com raiva da Kaycee em todas as lembranças que a Abby mostrava haha. Gente, essa menina é o demônio! Tem uma explicação do porque ela ter ficado daquele jeito, mas a sua crueldade não faz sentido nenhum. Percebi que Abby não sentia falta da Kaycee, ela queria apenas investigar esse caso para finalmente se libertar. 

O livro é narrado em primeira pessoa pela Abby, é uma história interessante e envolvente. Eu estava ansiosa para conhecer a escrita da Krysten e fiquei bastante satisfeita com o modo dela conduzir a história, com detalhes importantes no passado da Abby e que se conectam com o presente, assim como a construção de cada personagem. Vale a pena conferir!