14 [ RESENHA ] O Marquês

Título: O Marquês

Autora: Luís A. Delgado

Editora: Autografia

Páginas: 296

Estrelas: 4/5

Da floresta onde vivem a Louca da Ermida, o fantasmagórico Arvoredo e o Eremita com escritos sobre outros mundos, Augusto seguirá tentando lembrar-se de quem é e de onde veio, voando por planícies castanhas em sonhos enigmáticos, acompanhado de vozes de antigos xamãs e de espíritos. Ele não sabe da teia de poder que mãos de nobres teceram no passado, em uma vila, não sabe que veio da morte, mas fará de tudo para o saber, arremetendo contra muitas sombras em uma conspiração que se revela a cada página, pois que sente outro coração com delicada voz chamando-o de volta. Acordará?

Recebi esse livro de parceria e fiquei bem interessada pela sinopse.

A história conta sobre Augusto, um homem que acorda dentro de um rio todo machucado e sem memória. E ao levantar sai em caminhada pela floresta para tentar achar alguém ou algo que o ajudasse. Nessa caminhada consegue lembrar de seu nome e de dois fatos de seu passado, mas que não o ajudam a entender seu passado. Continuando nessa busca ele encontra duas pessoas, além de ajudar na recuperação dos machucados, que introduzem um dos assuntos principais da história que é a religião. Uma dessas pessoas é uma freira de uma igreja abandonada e um Eremita que estuda espiritismo. E essas pessoas criam um monte de questionamentos na mente do personagem.

Um fato acontece e impulsiona Augusto, ainda sem memória, a seguir caminho e assim encontra uma vila. Esta que atrai o personagem, mesmo que ele não seja bem recebido na mesma. E logo é compreendido que nessa vila estão as respostas para todas as perguntas de Augusto.  Nesse local são apresentados os personagens que são importantes para história e que estão envolvidos no grande mistério. O livro se passa no passado, mas sem data exata, como é explicado no prólogo.  

“Esta estória se passa em um tempo quando não havia eletricidade; as pessoas usavam lamparinas, tochas e fogueiras para se iluminarem, além de se locomoverem, apenas, por carroças, carruagens e montadas em cavalos, mas mesmo assim, não se pode determinar uma data precisa”

Como o livro é um misto de suspense e mistério, fica difícil fazer um resumo dele e não contar algo que possa estragar o mistério.

Eu fiquei bem interessada e ansiosa para descobrir o motivo da perda da memória do personagem e de todos os mistérios que aparecem no livro. Mas só fui realmente embarcar na história próxima a página 100, quando o assunto sobre espiritismo foi apresentado. Antes disso o livro é mais parado, falando mais sobre a caminhada dele na floresta e procurando alguém.

O livro é escrito em 3º pessoa, assim permitindo que o autor narrasse pensamentos de vários personagens. A escrita do autor é bem descritiva, o que ajuda muito a entender e a imaginar todos os cenários por onde o personagem passa. Os diálogos são em um português mais rebuscado, caracterizando o período em que se passa a história, que me causou uma dificuldade em ter uma leitura mais rápida por não estar acostumada, mas não é algo ruim ou que atrapalhe. Pode causar uma estranheza em alguém, que assim como eu, não está acostumado a esse tipo de escrita. 

“Augusto enfrentava a dor da perda aparentemente como se fosse a primeira vez, mas seu coração já tinha sofrido algumas parecidas como aquela antes, talvez não tão grandes, mas muito fortes.”

Como disse antes a escrita do autor é bem descritiva, mas essa característica que foi boa em ambientar o local, foi ruim em outro ponto. Achei que o autor descreveu demais histórias de vida de alguns personagens que, ao meu ver,  não eram necessários. Teve alguns momentos que pensei “mas para quê preciso saber disso? Essa história vai interferir o livro no geral?”. E por conta disso eu não consegui me aproximar muito dos personagens, o único que fiquei mais interessada foi o Eremita. E também não consegui captar exatamente a personalidade do Augusto. Ficou algo superficial para mim, não senti uma profundidade que normalmente gosto de ler. Esse ponto negativo é uma opinião de uma pessoa que gosta de sentimentos, relações mais trabalhados e mais enraizados. Mas isso é algo de gosto, talvez você goste de enredos mais leves.

A questão da religião abordada levanta algumas ideias bacanas, como algumas pessoas seguiam o líder religioso cegamente, sem questionar as falas. E como o padre era visto como poder máximo e de alta influência. Mostrando assim o grande poder que igreja católica tinha. E levantou também sobre como extremismo religioso não é legal. Além de como as pessoas não aceitavam, ainda não aceitam bem, outro tipo de religião. O tema sobre espiritismo me deixou bastante animada, mas por gostar do tema, queria que fosse mais comentado.  

Apesar dos pontos negativos que achei, eu embarquei na história e quis saber logo como acabava. Não senti que atrapalharam a leitura no geral. A escrita do autor é boa e achei os temas abordados interessantes. Por isso nota 4.