05/03/2018

17 [ RESENHA ] Grandes Homens Constroem os seus Destinos

Título: Grandes Homens Constroem os seus Destinos
Autor: Eriberto Henrique
Páginas: 124
Editora: Chiado
Estrelas: 5/5
Livro: Cedido pelo autor

Fernando Pessoa disse que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, e foi com essa singela verdade que o poeta seguiu trilhando seu destino no país estrangeiro. Olhando para o horizonte todas as manhãs, e agradecendo a Deus por mais um dia de vida, pedindo perdão pelas suas fraquezas, e força para superar os obstáculos que ainda iriam surgir. Porque no fundo, ele sabia que a guerra não estava só nas ruas do Haiti, estava dentro dele como está dentro de todos nós, que lutamos contra nossas mazelas dia após dia, para poder dormir tranquilamente no fim da noite. A consciência de um homem poder ser uma masmorra sombria, e se o amor não encher sua alma de luz, essa masmorra pode virar um abismo profundo de dores que permaneceram na eternidade. “Palavra presa é tumor que necrosa dentro de nós”, então quando o mundo parece virar do avesso e tudo ficar embaralhado em sua vida, olhe para dentro de você, grite, e liberte sua alma do seu próprio mal.



Esta não é a primeira obra que eu leio desse fascinante e talentoso autor chamado Eriberto Henrique. Ao ler a sua obra Poemas do Fim do Mundo, que também está resenhada aqui no blog, pude conhecer os seus belíssimos poemas. Mas esta é uma obra diferente e igualmente maravilhosa, pois além de conter poemas, o autor irá nos contar a sua trajetória de vida desde o seu sonho de ser escritor e ilustrador, até os desafios de realizá-los.

Sabemos que realizar um sonho não é uma tarefa fácil e que temos muitas variáveis que estão sempre querendo nos impedir de realizá-lo. Como a falta de apoio da família, de recursos, e o fato de que vivemos num mundo em que as pessoas estão pensando mais em conseguir empregos baseados na quantidade de dinheiro que elas ganharão, do que pelo amor pela profissão. Com isso, elas acabam esquecendo de que é preciso amar o que você faz e por mais difícil que seja realizar um sonho, precisamos ter fé e acreditarmos em nós mesmos. Agora sem mais delongas, vamos à Resenha haha!

Desde muito jovem, Eriberto Henrique passava vários dias pelos cantos de sua casa escrevendo poemas e criando desenhos em seus cadernos. Dia e noite, ele sonhava com aventuras fictícias e histórias épicas, que depois eram desenhadas em folhas de rascunhos, e utilizadas para as suas grandes criações. E apesar das dúvidas e certezas sobre o seu futuro dormirem juntas nas noites, ele sonhava com o dia em que veria os seus livros nas vitrines das livrarias do centro, ou com o dia em que suas ilustrações estampariam panfletos de eventos.

O brilho nos olhos era a sua marca registrada, e assim, ele seguia buscando o amor de sua família e o reconhecimento dos amigos. Mas infelizmente, não só de sonhos vive o ser humano. E aos 17 anos e com os estudos terminados, Eriberto percebeu que a realidade começava a pesar mais do que suas mãos inexperientes poderiam carregar. Enxergando as coisas de uma forma diferente, o desânimo se iniciara e ele começava a ver que seus sonhos estavam bem distantes de sua vida.

“A sua poesia nunca foi aceita por sua família. Já os seus desenhos eram vistos com uma certa admiração, mas para seus familiares, tudo aquilo de arte não passava de uma brincadeira de criança, praticada por um rapaz que já não era mais criança.”


Os dias eram cada vez mais difíceis para o poeta, pois as oportunidades passavam longe dos seus caminhos, e o mundo colorido e poético do qual ele ansiava, se transformara em obrigação e rotina. Com a realidade batendo em sua porta e as palavras que o faziam perder as esperanças, sonhar passara a ser algo fantasioso, e que no mundo de hoje, pessoas adultas não tinham tempo para isso; elas precisavam ter obrigações.        

Com isso em mente, Eriberto guardou seus cadernos e decidiu enfrentar o seu destino, alistar-se nas Forças Armadas, e virar um homem, como os outros diziam. Deixando os livros de lado para seguir regras, regimes e andar por um caminho totalmente diferente do qual sonhara. Contudo, o poeta percebera que seguir o caminho desejado pelos pais também não seria nada fácil.


“Ele deixou os livros de literatura e filosofia empilhados no canto do quarto, para seguir regras, regimes, e andar por caminhos que jamais seriam coloridos como os que ele cresceu a imaginar, lembrando sempre das palavras que lhe diziam: Desenhar não dá dinheiro! Escrever é uma loucura! Entre para o exército e faça carreira! E quando ele fechava os olhos podia ouvir sua mãe dizendo: -Ele vai ficar lindo de farda!”

Mesmo tendo sido dispensado por excesso de contingente e vendo a decepção nos olhos dos pais, ele não desistia, pois ainda lhe restava seguir o seu próprio caminho por mais absurdo que fossem as possibilidades. Trabalhando como artesão nos períodos da manhã e aprendiz de poeta nos fins de tarde, foi em uma oficina de jornalismo que Eriberto finalmente consegue com que os seus desenhos e crônicas sejam publicados em um jornal comunitário do bairro. Porém os seus sonhos ainda pareciam muito distantes do que ele desejava.

 A notícia de que o Governo Federal criara um projeto chamado Soldado Cidadão chega aos ouvidos do jovem poeta, e essa seria uma ótima segunda chance de entrar no exército e finalmente dar orgulho aos seus pais. Pois o projeto visava dar uma nova oportunidade para os reservistas ingressarem nas Forças Armadas e através de uma parceria com Instituições de Ensino, os jovens também teriam a chance de realizar cursos profissionalizantes em diversas áreas administrativas e operacionais.

Eriberto orgulhosamente consegue entrar para as Forças Armadas, no entanto, não seria nada fácil estar dentro daquele ambiente e o poeta veria a realidade cruel de como os novatos eram tratados. Para os guardas experientes dentro do exército, os soldados cidadãos não passavam de recrutas em um segundo alistamento. E apesar deles passarem pelos mesmos caminhos dos outros soldados do efetivo variável, ainda havia uma pequena e grande diferença que eles levariam para sempre com eles, o preconceito.

Os soldados cidadãos passam a ser motivos de piadas contadas nos papos da guarda, taxados como os soldados que não iriam pegar as armas, tirar guarda, nem engajar. E que esse projeto logo estaria falido, antes mesmo de começar. Num ambiente tenso e cheio de rejeições, onde as reflexões e ideologias do poeta eram pisadas por suas obrigações, ele ainda sentia que precisava dar orgulho a sua mãe.

Até que, enfim, o reconhecimento chega. Pois cumprindo suas obrigações e fazendo o que ele realmente era bom; sendo um artista. Desenhando e escrevendo na sala de meios da companhia, fazendo cartazes, faixas de quadros e murais utilizados nas instruções. Justamente aquele que não queria servir as forças armadas, que queria apenas ficar em paz com os seus livros, tinha tudo para ser um soldado do efetivo profissional, incorporando o 4º Batalhão da Polícia do Exército e tornando-se um recruta da Companhia de Escolta e Guarda.



“Na vida muitas vezes perdemos a essência de nossa alma, perdemos valores, ou os deixamos para trás por achar que se tornaram insignificantes; fechamos os olhos para a criança que fomos um dia, acreditando que a maturidade que nos é cobrada dia após dia, não deixa espaço para a fantasia.”

Com isso, os soldados cidadãos passaram a ser filhos do exército brasileiro, cumprindo as mais diversas missões, firmando cadência de formatura em formatura, para prestar continência a oficiais, e encher de estrelas os ombros de seus comandantes. Porém quanto mais Eriberto crescia no exército, mais ele se perdia como artista. E ao invés de evoluir, ele regredia. Pois já não estudava, nem tão pouco escrevia. Tudo que ele queria era estar com os amigos, buscando novas mulheres e seguir apenas sobrevivendo, naquele universo repleto de homens com suas vaidades.

E vendo no que ele se transformara, Eriberto decide que já era hora de trazer o poeta de volta a vida. Mas ainda faltava cumprir o seu maior desafio e que iria mudar a usa maneira de ver o mundo; a missão no Haiti.

“Mas tudo na vida tem o seu tempo, uma fruta não amadurece no cacho sem levar chuva e sol. Novas primaveras virão, sementes vão germinar, e as estrelas sempre estarão no céu, inclusive aquela que te faz brilhar. E por mais durão que você seja, sempre existirá em sua alma, um menino capaz de olhar as estrelas.”   

Gente, que livro fascinante! Eu particularmente amo os poemas do Eriberto, e conhecer a trajetória de vida dele foi uma experiência emocionante e ao mesmo tempo reflexiva. O autor utiliza a narrativa em terceira pessoa não apenas para contar a sua história como também para dialogar com o leitor, contando os seus momentos difíceis e até mesmo nostálgicos na criação dessa fascinante história. Fazendo o bom uso da ironia e nos prendendo totalmente ao enredo. Com isso, o autor traz reflexões relacionadas a nós mesmos sobre nossos sonhos e objetivos de vida. Sem falar nos momentos de tensão e cansaço nos meses em que ele esteve no Haiti. Vale a pena conferir!   
  
    
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17 comentários:

  1. Já tinha visto a resenha dos Poemas do Fim do Mundo e fiquei bem curiosa quanto a escrita do autor e esse livro me chama atenção por parecer uma obra autobiografia poética, gosto disso. Que bom que achou a leitura fascinante, recomendação anotada.

    Abraços.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/

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  2. Muito bom ler esta resenha e ver a obra do autor Eriberto Hernique sendo degustada da maneira que merece.
    Prazer em conhecer suas artes e tê-lo como parceiro nesta estrada.

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  3. Ahhhh me arrependi de não ter comprado esse livro <3
    Parece ser maravilhoso e não conheço a narrativa do autor.

    Beijos
    Sai da Minha Lente

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  4. Olá, tudo bem? Nossa parece ser uma biografia bem interessante. Cheia de percalços e vitórias, deve ser uma bela história para ser lida. Não conhecia, confesso, mas depois da sua resenha fiquei bem interessada. Adorei <3
    Beijos,
    diariasleituras.blogspot.com.br

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  5. Ainda não tive o prazer de ler os poemas do autor, mas gostei de saber que ele teve o merecido reconhecimento. Fiquei interessada pelo livro, quero acompanhar toda a trajetória do autor!

    Bjs

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  6. Eu amo poesias e nao conhecia o autor, então seu post já foi super válido porque já sei que vou amar as poesias dele. Deve ser muito bacana ler suas obras e depois sua história de vida, ver que apesar de tudo o seu sonho prevaleceu.

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  7. Oi Jennifer
    Fiquei muito curiosa para ler este livro também!
    Adorei a capa, o título e a sinopse
    Não conheço a escrita do Eriberto ainda, mas depois da sua resenha quero conhecer também. Muito bom o post!
    Dica anotada!
    Bjs

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  8. Oi Jennifer, tudo bem?
    Parece ser um livro incrível! Não conhecia, mas estou curiosa! Tenho uma maiga que foi em missão para o Haiti. Ela ficou apenas 20 dias, mas contou cada coisa... coisas boas e coisas muito ruins, horripilante até! Acredito que este livro deve relatar experiencias fascinantes! Dica anotada e amei a resenha!

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  9. Oi, Jennifer. Eu não conhecia o autor ainda, achei legal poder conferir a sua resenha sobre esse livro, mas não me animei com a leitura. Acho que até pode ser uma boa leitura (assim como foi para você) para quem se interessar.

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  10. Olá, tudo bem?

    Confesso que não conhecia o autor e menos ainda sua obra, também que livros de poemas não são o meu forte... Mas achei interessante ele intercalar a trajetória da carreira dele com os poemas e em forma de poemas, achei isso interessante e confesso que seria o ponto que levaria-me a lê-lo.

    Beijo!
    Ana.

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  11. Ola,
    Não conhecia o autor,porque confesso que não sou fã de poesias, sendo assim não sei se me prenderia esse livro. Mas, achei interessante a trajetória da vida dele e de como ele conseguia juntar sua arte mesmo com suas obrigações e trilhando assim seu caminho. Desejo muito sucesso para o autor.
    Beijos
    Raquel Machado
    Leitura Kriativa
    leiturakriativa.blogspot.com

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  12. Não conhecia o livro, mas não me interessei por ele. Não curto poesia, e pra ler (auto)biografia tenho que me interessar muito pela obra da pessoa antes. Mas que bom que gostou tanto da leitura!

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  13. Olá!
    Me parece ser uma obra muito legal e mesmo não sendo grande apreciadora de poesias, gostei bastante de conhecer mais da sua experiência com essa leitura.
    Beijos!

    Camila de Moraes.

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  14. Olá, tudo bem Jennifer?

    Eu achei a sua resenha muito boa, eu não conhecia esse livro, eu até curto poesia e biografias, mas no momento não pretendo ler "Grandes Homens Constroem os Seus Destinos".
    Abraço!

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  15. coitado, ter que entrar para o exército. Não conheci ao autor e muitos menos o livro, mas fiquei curiosa com a saga desse jovem poeta.

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  16. Olá Jennifer,
    Eu ainda não conhecia esse autor, mas também não curto poemas, então, não me surpreendo muito. Eu achei muito legal a persistência do autor em não desistir dos seus sonhos e ir atrás do que procura. Eu fiquei muito emotiva com sua história de vida também. Não deve ter sido fácil, mas ele não desistiu, inspirou!
    Beijos,
    http://www.umoceanodehistorias.com/

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  17. Não conheço o autor e ainda não tiver o prazer de ler seus poemas. Adoro poesia. Gosto da editora e gostei do título.

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