39 [ RESENHA ] Enquanto Bela Dormia

Título: Enquanto Bela Dormia

Autora: Elizabeth Blackwell

Páginas: 364

Editora: Arqueiro

Estrelas: 4/5

Quando a rainha Lenore não consegue engravidar, recorre aos supostos poderes mágicos da tia do rei, Millicent. Com sua ajuda, nasce Rosa, uma menina linda e saudável. No entanto, a alegria logo dá lugar às sombras: o rei expulsa de suas terras a tia arrogante, que então jura se vingar. Seu ódio se torna a maldição que ameaça a vida de Rosa. Assim, a menina cresce presa entre os muros do castelo, cercada dos cuidados dos pais e de Flora, a tia bondosa e dedicada do rei que encarna a fada boa do conto original. Mas quando todas as tentativas de proteger Rosa falham, é Elise, a dama de companhia e confidente da princesa, sua única chance de se manter viva. E é pelos olhos dessa narradora improvável que conhecemos todos os personagens, nos surpreendemos com o destino de cada um e descobrimos que, quando se guia pelo amor – a magia mais poderosa do mundo –, qualquer pessoa é capaz de criar o próprio final feliz.

Preciso dizer que escrever essa resenha é em parte muito empolgante, pois como fã que sempre fui dos contos de fadas, não perdi a oportunidade de comprar esse livro e  não arrependo nem um minuto de o tê-lo feito.  

A história se passa em um cenário da Idade Média, onde vemos tudo aos olhos de uma narradora improvável, mas que é incrivelmente fantástica. Sendo assim, somos apresentados a Elise, uma jovem sonhadora, que vive no campo com a sua mãe, o seu padrasto e seus irmãos, os quais todos levam uma vida muito simples. A relação entre eles é um pouco triste, pois o padrasto da Elise vive tratando-a com desdém e  desde cedo ela foi ensinada a trabalhar duro, acordar cedo, cuidar dos animais e da casa. A mãe dela no entanto, a Mayren, sempre tenta incentivar a filha a ter um futuro melhor. A princípio a Elise não entende muito bem a fascinação da mãe pela cidade e pelo palácio, mas com o tempo ela descobre que a mãe foi uma serva e viveu entre a corte por um tempo, até se engravidar da Elise e ser obrigada a fugir, por não ter tido a filha reconhecida.

“Não se deixe enganar pelas maneiras refinadas. Na corte, os inimigos se escondem bem à vista”.

Depois de descobrir que a mãe viveu entre os nobres, o interesse da Elise pelo seu pai ou por qualquer vestígio da antiga vida da Mayren, só vai crescendo com o tempo e consequentemente é a única motivação que ela encontra, quando um surto de varíola acaba primeiramente com os animais da fazenda onde ela vive, posteriormente com os seus irmãos e por fim com sua mãe. Este ponto da história é realmente muito interessante e vocês vão entender depois, mas acontece que a Elise, o seu padrasto e o seu irmão Nairn, foram os únicos que sobreviveram à doença e temendo viver sobre as garras do homem que tanto à desdenhou durante toda sua vida, a Elise foge com algumas moedas de ouro cedidas pela sua mãe em seu último suspiro e viaja de carona em direção à cidade St. Elsip, a fim de encontrar a irmã da sua mãe (Agna) que ainda vive por lá.

“ Todo desejo de concedido tem um preço, um preço que não temos como prever até ser tarde demais”.

Ao chegar na cidade, a Elise se espanta com a magnitude dos prédios e da quantidade de pessoas. Ela acaba encontrando a Tia facilmente e esta a recebe sem muita emoção, mas não lhe deixa de prestar ajuda, lhe dando roupas novas e sapatos. Bom já que falamos de sapatos, um ponto crucial da história é a ida da Elise ao sapateiro que tem uma loja embaixo da residência da sua Tia. Ao chegar no local, ela conhece o alegre Hannolt, o sapateiro e o seu filho aprendiz, o Marcus. Quando ela se encontra com esse último, uma troca de olhares acontece entre eles e isso marca os dois. Após esse encontro, o Sr. Hannolt diz a Tia dela que estará visitando o palácio em breve, pois possui encomendas por lá. Não querendo perder a oportunidade, a Tia da Elise resolve envia-la junto com o sapateiro para que a mesma se apresente a Sra. Tewes, a chefe dos servos no palácio e alguém que conhecia a mãe da Elise.

Preciso dizer que nesse ponto do livro a personagem anseia muito conseguir um emprego no castelo, tal como  a sua mãe, a fim de conseguir uma vida melhor e se aproximar mais do seu passado.

“É uma verdadeira benção sermos poupados do conhecimento prévio de nosso futuro e nosso fim”.

Bom, ao chegar ao palácio e ser apresentada a Sr. Tewes, a Elise logo consegue o emprego de camareira, após mencionar o nome de sua mãe. Neste cenário, ela acaba conhecendo alguns personagens marcantes como Petra - uma das servas que se torna amiga da Elise -  a Rainha Lenore, a qual desenvolve uma afeição instantânea, as damas da corte, como a Lady Whintermale e posteriormente conhece também, figuras um tanto marcantes como o príncipe Bowen, um personagem muito ganancioso. A tão famosa Millicent, tia do Rei e preciso dizer que até eu fiquei com medo dela, a autora descreveu a personagem com uma personalidade tão forte que me vi sentindo toda a agonia da presença dela, tal como a Elise. E por fim, mais alguns membros da corte surgem no caminho, como o jovem Dorian, um galanteador que vive perseguindo as mulheres da corte.

Não vou conseguir falar de todos os personagens aqui, pois acreditem são muitos, o que torna a trama não só rica em detalhes, mas também cria uma ordem de acontecimentos muito bem construída. Aos poucos que a Elise vai convivendo no palácio, ela começa a desenvolver muito bem as suas tarefas e ganha o prestígio da Rainha Lenore, que logo após casar sua antiga serva, acaba convidando a Elise para ser sua criada pessoal, o que dá uma certa ascensão na posição social dela. Ao começar a desempenhar os trabalhos para com a Rainha, a Elise acaba desenvolvendo uma ligação entre a soberana e descobre uma Rainha muito triste por sua infertilidade e ao mesmo tempo muito bondosa e generosa.

“O poder é a verdadeira moeda de corte. Os que o possuem brandem-no sem piedade, sejam criados, sejam cavaleiros”.

A comoção na trama acontece, no entanto, quando a Rainha ao não conseguir dar à luz a herdeiros, acaba consequentemente levando o rei a reconhecer o seu irmão, o príncipe Bowen, como seu legítimo sucessor. O ganancioso príncipe, fica muito feliz com a notícia mas não poderia contar que teria seus planos frustrados, quando enfim a Rainha fica grávida. E bem é isso pessoal. Sinto que não posso falar muito mais, pois tirarei toda a magia e o suspense da trama. Mas é importante destacar que a gravidez da rainha só aconteceu devido a ajuda da Tia do Rei, a Millicent. E isso cria na megera um certo ar de poder e de achar que tem controle sobre todos no palácio, o que aguça a raiva do Rei que acaba expulsando a Tia para sempre do reinado dele, justamente no batizado da princesa Rosa. E claro pessoal, isso causaria consequências, pois a Millicent jura que irá se vingar do Rei e de toda a sua família.

“O desejo de poder é capaz de ludibriar um homem de determinação ferrenha. O monarca havia estabelecido o seu domínio, mas tinha criado um inimigo perigoso. Um inimigo que nunca esqueceria o que lhe fora feito”.

Ufa, acho que contei o que precisava contar e não dei nenhum spoiler. Mas preciso dizer pessoal que esse livro tem uma narrativa muito rica. Diversas vezes me vi um pouco cansada da quantidade de detalhes que a autora apresenta, mas isso só serviu para conseguirmos adentrar mais no passado da Elise, que conta a história já idosa para a sua bisneta. Então conseguimos realmente sentir tudo que ela passa, tudo que ela sente, desde a fidelidade à Rainha, ao amor que ela vive na história e que vocês já devem estar se perguntando porque não estou entrando em detalhes, mas acredito que vocês vão se surpreender muito mais quando lerem a história, pois aqui eu tiraria toda a magia.

Enfim, este é um livro bem trabalhado. Eu demorei um pouco mais para ler, pois como eu disse o excesso de informações requer atenção. Mas não me arrependo nem um minuto de ter dedicado meu tempo a trama. Recomendo este livro principalmente para as fãs de romance, fãs de contos de contos e principalmente para quem gosta de uma história bem contada, pois é isso que vocês vão encontrar, uma versão do clássico A Bela Adormecida, escrito de uma forma crua, sem a ficção exibida anteriormente, mas que tem magia à sua forma.

Ah e para as pessoas que não são lá muito fãs dos clichês, digo a vocês que este livro vão lhe surpreender de uma forma que nenhuma história já contada conseguiu antes. O desfecho que a autora criou é original, diferente e muito satisfatório, vocês não vão se decepcionar.

Eu achei a capa do livro muito bonita e intrigante. A diagramação é muito boa e eu adoro a editora arqueiro, mas infelizmente o meu exemplar veio com algumas partes meio apagadas as quais eu tive que forçar a visão para conseguir ler. Essa é a primeira vez que me acontece algo assim, mas nada disso atrapalhou a leitura ou me deixou desanimada de prosseguir com a história. 

Este livro é um dos lançamentos de janeiro e acredito que vai entrar na minha lista dos melhores do ano. E bom, se você ainda não leu Enquanto Bela Dormia, o que está esperando para embarcar nos trajes reais, nos banquetes e torneios criados pela realeza e pela magia que toda essa época parece exalar?

Até a próxima galera!