Não sei se fui sempre assim retraída quanto às pessoas com quem não convivo ou as experiências me fizeram escrever mais e falar de menos.
Quem me vê na rua de casa sabe que eu gosto mesmo é de usar pijama e chinelos de gestante, cabelo preso e cara limpa. E que eu converso com qualquer pessoa, desde que, no caso, ela puxe um assunto.
Que tipo de ousadia esperar de alguém assim?
O grito de liberdade do verdadeiro eu, para o bem ou para o mal, vem de uma parte de nós, não necessariamente do fundo da garganta, mas de um porém: “Fulana se acha gostosa, suas pernas são muito finas, porém ela gosta de mostrá-las mesmo assim” ou “Aquela ali conversa com todos na rua, a educação é impecável, porém ela é uma ordinária com os pais e se acha superior quanto a isso” ou “A garota continua engordando, porém é um amor de pessoa e se veste muito melhor que umas e outras com o corpo bonito”. O que está antes do porém, é apenas a opinião dos outros.
Não somos ideais, mas o que nos dá confiança?
Quando eu preciso sentir meu exterior confiante no meio de tanta gente julgando o que sou, o que fiz, pra onde vou: eu uso maquiagem.
No início o mais sutil possível, mais por medo de parecer vulgar ou estranha longe do meu lugar comum. Então, veio essa bienal do livro e a chance de distribuir meus primeiros autógrafos, minha assinatura tímida para quem se dispusesse a conhecer uma nova escritora.
A emoção da experiência era tanta que eu só queria me sentir linda, mesmo que as espinhas do meu rosto não devessem pertencer a mim, nem a você que está lendo, e teve a paciência testada tantas vezes pelos comerciais com modelos que ou estavam perfeitamente montadas ou realmente nem sabiam o que era acordar com as danadas no rosto todo, fazendo marketing de produtos milagrosos. Enchi meu estojo com tudo que é treco que encontrei em casa e quando cheguei num dos lugares mais esperados por mim, corri para o banheiro e parei de fingir que pra escrever romance eu tinha que ser somente a garota que veste all star, jeans e camiseta e não liga pra aparência, o batom rosa deu lugar ao roxo e no outro dia ao marrom e depois ao vermelho.
Sei que me senti tão bem de batom que mesmo de pijama e chinelos de gestante há vida e cor nos meus lábios. As espinhas continuam, mas agora o batom também, já assumi.
Eu dei um grito de liberdade a mim mesma. Do grito mais sutil, até outros que anseiam alçar voo e terão sua vez.
“Ela é tão estranha, porém fica bonita de batom!”
Qual é o seu porém? O que você esconde antes e depois dele? Espero que saiba que as mudanças vem de dentro e vem de fora, mas é essencial que venha de algum lugar.
Ah, antes que eu esqueça, pra pessoa que disse que sou estranha: Bingo! Você acertou ;)
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Agora se você ainda não leu “Possibilidades” lançado pela Young Editorial nem está acompanhando “garota avoada” no aplicativo do Wattpad (tem o link na aba "Sobre"); eu não guardo rancor, porém espero que leia <3
Até mais.