30/09/2017

4 [ RESENHA ] A (R)evolução das Mulheres

Título: A (R)evolução das Mulheres
Autora: Mindy McGinnis
Páginas: 343
Editora: Plataforma 21
Estrelas: 5/5
Três anos se passaram desde o assassinato da irmã mais velha de Alex Craft. Mas, como é de costume, a culpa sempre recai sobre a vítima e o assassino segue sua vida em liberdade.Alex é uma menina forte e quer vingar sua irmã. Por isso, ela resolve atacar qualquer predador sexual que cruzar seu caminho e colocar a boca no mundo, usando a linguagem que conhece melhor: a linguagem da violência.Mas o que aconteceu na noite do assassinato chama a atenção de Jack Fisher, o cara invejado por todos: atleta perfeito, que desfila de braço dado com a garota mais cobiçada. Ele deseja conhecer Alex profundamente. E, numa cidade pequena, onde todo mundo se conhece, esse repentino interesse vai desencadear uma série de crimes bárbaros.Uma narrativa vibrante com cenas de grande impacto, A (r)evolução das mulheres é uma reflexão profunda sobre os abusos e estereótipos, que tiram a humanidade das mulheres. Mindy McGinnis nos mostra que as agressões perseguem a vida não só das vítimas, mas também daqueles que estão próximos a elas.

Olá Leitores,

Já andaram pela livraria e se depararam com ou clicaram nas hashtags desse livro no Instagram? 

Para começar falar dele vou contar a historinha do meu processo de leitura: Como vocês devem ter notado, eu amo um livro juvenil, então quando eu vou buscar o maridão no serviço (sim, ele trabalha em livraria) o primeiro corredor que eu ando é justamente onde há ficção adolescente. Fui procurar pela sátira Time Humanos e ao lado dele uma pilha de A (R)EVOLUÇÃO chocava com essa capa de porta de banheiro. Eu não sei na escola de vocês como é, mas fui jogada direto no banheiro da minha, lendo declarações de amor e ódio. Fiquei olhando a capa e pensando o quanto a premissa era boa e como mágica a poltrona ao lado vagou, peguei os dois livros, sentei e comecei a folhear. 

Time Humanos ficou de apoio, jogado de escanteio (sim, ainda quero ler) e um virar de páginas frenéticos absorvendo cada linha do texto de Mindy McGinnis deu início naquela tarde qualquer e quatro dias depois quando voltei à loja (ainda não era dia de funcionário pegar livro emprestado). Enfim, o livro chegou em casa e pude ler com calma o retratar de um assunto tão antigo, mas que só está sendo debatido agora.

"Então me viro e conto quem sou.
É assim que eu mato uma pessoa.
E não me sinto mal por isso".

As consequências da falta de punição para agressores, a cultura de que mulher tem que ter um certo jeito de agir, um horário para sair, uma etiqueta de vestimenta com muito pano e um número pequeno, "melhor se for ínfimo", de beijos e sexo casual, e qualquer coisa além disso é um permissão não pronunciada para o abuso. Esse trecho anterior  é uma quantidade enorme de besteira que não deveria sequer dividir opiniões.

No meio desse absurdo temos garotas como Anna: brutalmente assassinada e abusada sexualmente; a irmã dela Alex: que foi ferida de maneira irremediável jovem demais; Efepê (filha do pastor): munida pela mágoa com a traição do agora ex namorado e o ódio por Bradley Jacobs, pivô da separação (porque é mais fácil odiar outra mulher do que o próprio companheiro) e Jack: o garoto que comete erros, tem algumas boas intenções, certas atitudes machistas arraigadas nele assim como em outros personagens, mas pessoa pelo qual você tem apreço, porque TODOS nessa história têm falhas. 


"No anonimato da escuridão, o ar parecia pesado de pensamentos, a loira sentada do meu lado se esforçando para respirar normalmente quando um menino sugeriu que ela seria a estuprada entre as cinco de nós que foram apontadas. Aqui na luz, fica mais difícil disfarçar o quanto ela ficou incomodada com aquilo. Sua expressão é séria, seu sorriso muito apertado, e ela finge que tem um cabelo no olho que explicaria as lágrimas que se acumulam nele".

A narração da história é pelo ponto de vista desses três jovens: Alex, Efepê e Jack, os capítulos são curtos e bem escritos, e se você consegue ler um livro inteiro em um dia, que tal passar naquela biblioteca aconchegante, ajeitar um cantinho e iniciar a leitura?

Alex que é o centro da história tem algumas atitudes contraditórias: ser boa ou má, assassina ou protetora dos animais e de indefesos, ferida pela morte da irmã ou adolescente apaixonada? Essa última pode irritar um pouco, mas compreendo como um jeito que ela encontrou de se sentir normal, de não ser apenas escuridão.

Alex Craft é a garota que você quer ser ou ao menos ter por perto, desde que a irmã morreu, ela é uma espécie de vingadora. O que a justiça absolve, ela não perdoa. Desculpe àqueles que são totalmente contra a violência, mas quando você tem medo/vergonha de denunciar o abuso, quando você não tem reação, ou quando você mete as caras e denuncia, não há nada pior do que assistir a justiça dizer que o que você passou não foi grave. Não causou constrangimento. Não foi agressão. Se a justiça não lhe defende, se as pessoas questionam o que você estava fazendo/ usando para chamar atenção do agressor, seu coração acaba ficando um tiquinho mais cruel do que você gostaria.


"...Ele vai ficar mutilado, eu sei, e tem gente que vai achar que fui muito dura.
Mas alguns homens deviam mesmo ser marcados. E eu estou à altura dessa missão"

Gentileza nem sempre gera gentileza. Às vezes, gera inversão de valores, gera permissões. Um sorriso gratuito pode dar margem a permissões que você nem sabia que havia dado. Gera um: "Também, se ela não tivesse sido tão amável, tão gentil, tão educada ele não teria PENSADO que ela queria algo mais". "Também se ela não estivesse na rua a essa hora da noite, ele não teria IMAGINADO que ela estava procurando diversão com qualquer um". Dói saber que esse tipo de pensamento vem de homens e mulheres e muitas vezes da própria interpretação da justiça.

A (R)evolução das mulheres, ao meu ver, é uma historia de ação e reação, é sobre como somos todos um pouco machistas, mas sobre como é essencial que sejamos um pouco feminista também. Homens e mulheres. Jovens e crianças.

"Mas, 'meninos são assim mesmo', é nossa expressão preferida e que serve de desculpa para tanta coisa, ao passo que para falar do gênero oposto, só dizemos 'mulheres...', com um tom de desdém e acompanhado de um revirar de olhos".

Por ser uma ficção juvenil, a narração é leve em cima de um tema pesado (ela dispara gatilhos, sim, no entanto acredito que é mais leve do que poderia ser), então não se engane nem leia por ler. É o tipo de livro que eu gostaria de ver na grade curricular das escolas, o tipo de livro que eu gostaria que fosse conversado na mesa das famílias.

Um livro que deixa claro que violência gera violência, no entanto é, também, sobre respeito e limites.

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4 comentários:

  1. Eu a-do-rei! Sua resenha é ótima e o livro parece o tipo que a gente não se arrepende de ler. Adoro esses suspensas, ação, vingança... dá um filme.

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  2. Olá Taty, tudo bem? Confesso que se estivesse numa livraria e visse esse livro, ele certamente não chamaria a minha atenção. Só depois de ler a sinopse e a sua resenha, pude entender a complexidade dessa obra. Me vi fascinada pela leitura e certamente vou coloca-la na minha lista. Uma obra que aborda a violência de uma forma tão única e impactante deve mesmo ser divulgada. Obrigada por compartilhar conosco uma obra tão singular. Amei a sua resenha e dica.
    Beijos

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  3. Achei esse livro incrível desde quando foi lançado, e olhe que nem sabia muito sobre, só deduzi que trataria de questões de gênero. Ao ler sua resenha tive a certeza de que é uma leitura muito necessária para que todos compreendam a a seriedade desse assunto. Parabéns pela resenha, e obrigada pela dica!

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    1. Pelo título e capa eu não pensava que fosse juvenil... Concordo contigo, livros assim deveriam entrar na pauta das escolas, trazendo para o debate não só o machismo existente na sociedade, como também o uso correto do feminismo.
      Bjs Rose

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